O que são as EdTechs, as startups que estão revolucionando a educação
Por meio da tecnologia, empresas podem solucionar gargalos como a falta de renda dos clientes para custear programas de capacitação ou a necessidade de estudantes em reforçar os conhecimentos para o ingresso nas universidades
Mesmo antes da pandemia, o desempenho da educação brasileira estava aquém do esperado. O último exame do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, da OCDE (o clube dos países ricos), em 2018, concluiu que menos de dois terços dos brasileiros de 15 anos chegavam a compreender o básico em matemática. Durante o isolamento social, o problema foi agravado pelo fechamento temporário das escolas somado às dificuldades no aprendizado à distância.
No futuro, esses gargalos resultam em dificuldades para que as empresas possam contratar mão de obra qualificada. Outros efeitos negativos são o baixo crescimento do país e a geração de renda per capita. No caso das startups, porém, esse emaranhado de problemas representa oportunidades de inovar e oferecer novas formas de ensino.
Para inovar e levar educação de qualidade a mais pessoas, boa parte dessas companhias de tecnologia têm utilizado o conceito de lifelong learning na aplicação de seus conteúdos. Ou seja, o aprendizado não acontece apenas em sala de aula, mas é algo que é aperfeiçoado e se mantém de forma contínua ao longo da vida.
Outro diferencial das EdTechs é que elas despontaram para suprir a demanda de companhias carentes de conteúdos para profissões da nova economia, uma necessidade que muitas vezes precisa ser atendida de forma mais rápida do que a usual. É preciso dizer, porém, que esse método não exclui a formação acadêmica tradicional, mas se apresenta como um caminho alternativo e complementar às universidades. Entenda um pouco mais sobre o universo e o avanço das EdTechs.
O tamanho das EdTechs no país
De acordo com dados da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), eram 566 EdTechs no país ao final de 2020, crescimento de 51% sobre o ano anterior, quando 374 startups de educação atuavam de forma ativa por aqui. A maioria dessas empresas (58,7%) estão no sudeste, mas já começaram a se espalhar por sul (20,4%) e nordeste (10,4%).
Por outro lado, os dados da associação mostram que as empresas estão aproveitando as várias possibilidades de atuação por meio da tecnologia em um segmento importante. São empresas que oferecem como solução de mercado Software as a Service (50%), venda direta (15,2%), clube de assinatura (8,1%) e marketplace (6%), entre outras opções.
A educação básica é a etapa que tem o maior percentual de companhias (37,2%), seguido por cursos livres (14,9%), educação corporativa (14%) e ensino superior (11%). Já as companhias que oferecem cursos preparatórios (5,2%), educação infantil (4,4%) e idiomas (4,2%) têm menor representatividade sobre o total, mas seguem avançando.
Dessa forma, o surgimento de 192 empresas no setor durante o ano acompanha o nível de captação recorde em 2021. Entre janeiro e outubro, as EdTechs receberam US$ 552,7 milhões em aportes, segundo a plataforma de inovação aberta Distrito.
Para se ter ideia do quanto esse montante representa, as empresas de tecnologia do segmento educacional haviam captado US$ 175,5 milhões, entre 2010 e 2020, sendo apenas US$ 25,4 milhões no último ano. Assim, os investimentos nos nove primeiros meses deste ano já superam em mais de três vezes os números da última década. Confira 4 startups que estão revolucionando a educação.
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5 principais dificuldades de uma startup em seu crescimento
1 — Be Academy
Fundada por Bruno Pinheiro em 2018, a startup é focada no ensino para a nova economia. As aulas sobre design thinking, liderança criativa e desenvolvimento de negócios são lecionadas por empreendedores como Tallis Gomes (ex-Easy Taxi) e Bruno Nardon (ex-Rappi). Na sua trajetória, a empresa recebeu investimentos de R$ 5 milhões do empresário José Janguiê Diniz, dono do grupo Ser Educacional, em 2019. A Be Academy também possui um MBA em marketing e negócios digitais.
2 — Trybe
Escola focada em atender a demanda do mercado, a Trybe propõe formar desenvolvedores no prazo de 12 meses. Além dos módulos de desenvolvimento web, front-end, back-end e ciência da computação, a startup trabalha também com as chamadas soft skills. Uma das grandes sacadas da empresa para conquistar novos clientes é a possibilidade do aluno começar a pagar o curso a partir do momento em que receber uma remuneração de R$ 3 mil. Fundada em 2019, a empresa já recebeu mais de US$ 48 milhões em aportes de fundos como Base Partners, Untitled, XP e Verde Asset Management.
3 — Descomplica
O Descomplica oferece cursos online tanto de graduação quanto de pós. Mas foi com as aulas de disciplinas como matemática, português, física e química para pré-vestibulandos que nasceu e conseguiu chamar a atenção de investidores. Atualmente, coloca à disposição dos clientes videoaulas e conteúdos para concursos públicos e reforço escolar. Fundada em 2010, os aportes na empresa ultrapassam os US$ 114 milhões junto a fundos como o japonês SoftBank, Chan Zuckerberg (do Facebook), Península Participações e Valor Capital Group.
4 — Digital House
Fundada na Argentina em 2019, a Digital House atua desde 2018 no Brasil. Com cursos de programação, marketing digital, negócios, experiência do usuário e ciência de dados e clientes também no Chile, México, Colômbia e Uruguai, a plataforma de educação formou 130 mil profissionais na América Latina, sendo 11 mil no Brasil. A empresa já levantou mais de R$ 350 milhões desde a sua fundação. No último aporte, em março deste ano, recebeu 280 milhões de fundos como Riverwood Capital e Kaszek e empresas de tecnologia como Mercado Livre e Kaszek.
5 — Galena
Fundada no final de 2020, a Galena tem o propósito de tirar os jovens que estão na base da pirâmide social para inseri-los no mercado de tecnologia e inovação. Para cumprir essa missão, a EdTech oferece programas para a área de vendas, sucesso de clientes (customer success) e para acompanhar os desafios do dia a dia das companhias. Em um modelo de negócios bastante similar ao da Trybe, o aluno só paga o curso de capacitação se conseguir uma vaga com salários acima de R$ 2 mil. Como requisitos, a empresa seleciona apenas jovens entre 18 e 24 anos que tenham concluído o ensino médio em escola pública. Em maio, a Galena recebeu US$ 7,3 milhões da GK Ventures, gestora de venture capital comandada por Eduardo Mufarej.
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